fevereiro 28, 2012

Fevereiro 2012 nº. 64

AS ONDAS DO MAR

Quaresma

Este nome tem que ver com os quarenta dias que a liturgia da Igreja nos propõe como tempo de preparação para a Páscoa. Porquê quarenta dias? O número 40 tem muitas ressonâncias bíblicas como, por exemplo, os 40 dias e 40 noites do dilúvio (cf. Gn 7,12); os 40 anos da travessia do deserto, pelo Povo Israelita, a caminho da Terra Prometida; os 40 dias de jejum de Moisés, no monte Sinai à espera da revelação de Deus (Ex 24, 12-17); e, sobretudo, os 40 dias e 40 noites de jejum e oração de Jesus, imediatamente antes do começo da sua missão de pregação.  (Mt 4,2).

Como lembra Bento XVI, cada um destes acontecimentos bíblicos contém, de algum modo, o significado de “tempo da espera, da purificação, do retorno ao Senhor, da consciência de que Deus é fiel às promessas”. Todos apontam para a necessidade de “uma paciente perseverança, uma longa prova, um período suficiente para ver as obras de Deus, um tempo de decisão quanto a assumir as próprias responsabilidades”. Por um lado, são tempos de reencontrar e purificar o amor a Deus e, por outro, são ocasiões de tentação para retornar ao paganismo. Para o próprio Jesus, os 40 dias de deserto foram de decisão quanto ao tipo de messianismo a escolher: ou o messianismo político “de poder e de sucesso ou um messianismo de amor, de dom de si”, de aproximação a todos, sobretudo aos mais necessitados.

Também, na vida de cada cristão, idêntico dilema se coloca e, ao menos simbolicamente, ele é particularmente vivido durante o deserto quaresmal. A opção situa-se entre o caminho aberto “que confirme a própria fé, que nutra a própria esperança, que anime a caridade” e a sempre presente tentação do secularismo e da cultura materialista, que “fecha a pessoa no horizonte mundano do existir, tirando toda a referência ao transcendente”.

Foi também esta a escolha que Moisés propôs solenemente ao Povo de Israel, antes da entrada na Terra Prometida, como lemos, há pouco, na 1ª leitura da missa de quinta-feira-depois-das-cinzas: “Ponho hoje diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade. Se cumprires os mandamentos do Senhor - amando o Senhor, teu Deus, seguindo os seus caminhos - viverás e o Senhor, teu Deus, te abençoará na terra de que vais tomar posse. Mas se o teu coração se desviar, se te deixares seduzir para adorar e servir outros deuses, declaro-te hoje que não prolongarás os teus dias na terra em que vais entrar” .  (cfr. Dt 30, 15-20).

A Quaresma é muitas vezes associada a tristeza e luto, mas, como também lembra o Papa, deve ser vivida na antecipação da alegria pascal, pois o seu sentido profundo é de preparação para esse dia – o  Dia do Senhor, por excelência. Vivê-la tristemente seria cair no erro que Jesus recrimina: “Quando jejuares, não tomes um ar sombrio” (…) mas “perfuma a cabeça e lava o rosto” . (Mt 6, 16-17).  

A Quaresma é certamente tempo de busca do essencial, de acertar o rumo e de aceitar a misericórdia que Deus nos oferece. É caminho de regresso à casa do Pai, na alegre certeza de que Ele nos recebe em festa, como na parábola do filho pródigo. De facto, todos temos algo da rebeldia deste filho mais novo. Reconhecê-lo, ajudar-nos-á a evitar a má-figura do filho mais velho.

Seguindo ainda uma sugestão do Santo Padre, façamos esta caminhada quaresmal em comunhão com os irmãos, de acordo com a recomendação da Carta aos Hebreus (10,24): “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. E sejamos concretos, pois a situação difícil do nosso país exige-nos que esta “atenção aos outros” não se feche no círculo restrito dos mais chegados, mas se abra também à preocupação com os mais necessitados. O nosso jejum terá expressão significativa quando resultar em ajuda concreta aos irmãos e irmãs que, de facto, passam fome.

Em resumo, tomemos para nós, nestes dias (e sempre), os conselhos de S. Paulo aos Romanos (12, 9-12): “ Que o vosso amor seja sincero. Detestai o mal e apegai-vos ao bem. Deixai-vos inflamar pelo Espírito; entregai-vos ao serviço do Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração”.

P. Manuel Vaz Pato, sj

(Esta nota inspira-se abundantemente em dois textos recentes de Bento XVI que podem ser encontrados no site do Vaticano: www.vaticano.org,  “a mensagem para a Quaresma e a catequese de Quarta Feira de Cinzas”.)

TESTEMUNHO

Na nossa paróquia de S. Pedro temos, graças a Deus, actualmente um grupo de Ministros Extraordinários da Comunhão, constituído por 13 membros, cuja missão principal consiste em ajudar o sacerdote a distribuir a comunhão. Este ministério é realizado na Igreja e na visita domiciliária a doentes ou idosos, levando-lhe a sagrada comunhão. Desta vez quisemos dar-lhes a palavra e, como tal pedimos a um deles que nos falasse, um pouco, da sua experiência tão rica e variada, de alguém que desempenha e se dedica a este ministério com todo o entusiasmo, alegria e esperança.
                                          P. Hermínio Vitorino, sj


Quando, há já uns anos atrás, fui convidada para fazer o Curso de Ministros Extraordinários da Comunhão, achei que era um desafio muito grande que o Senhor me fazia, por não me sentir digna de tal, mas aceitei, consciente da responsabilidade que daí advinha.

Até agora não me arrependi, porque tem exigido de mim uma fidelidade e uma união cada vez maior ao Senhor, através da participação diária na Eucaristia, muita oração e meditação da Palavra de Deus, às quais vou buscar força necessária para um testemunho de vida coerente, com transparência e simplicidade e sempre numa atitude de busca constante ao serviço dos irmãos.

Durante 25 anos fui catequista nesta Paróquia de S. Pedro porque, como profissional da educação que era, me sentia mais vocacionada para trabalhar com crianças. Interrompi essa atividade há dois ou três anos por motivos de saúde. Passei então a ocupar-me mais dos idosos, sobretudo dos que vivem sós, a quem dedico a minha amizade, levando-lhes não só o alimento espiritual mas também prestando-lhes pequenos e variados serviços de que necessitam.

A relação que entre nós se estabelece é muito forte e gratificante e, quando Deus os chama, é como se fosse um familiar meu que parte.

É sempre com ansiedade que esperam o Ministro extraordinário da Comunhão, pois leva-lhes não só o Pão da Palavra e da Eucaristia mas também uma palavra amiga de esperança e de confiança no Senhor que, a qualquer momento, pode bater à porta.

Digo-vos que vale a pena viver e trabalhar com e para o Senhor, pois a alegria e a paz interior que Ele nos proporciona superam todas as dificuldades e todos os sacrifícios.

Maria dos Anjos Mugeiro

Ciclo Quaresmal B (actual ano pastoral)


Como sabemos, a Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no sábado anterior ao Domingo de Ramos. Oferece-nos a oportunidade de reflectir sobre o cerne da vida cristã: o amor, o dar a vida. Aproveitemos bem este tempo, fazendo-nos peregrinos como e com Jesus, buscando a vontade de Deus para a nossa vida, para que assim possamos participar, com mais intensidade, da Sua alegria Pascal.

Neste ano de 2012, os textos que nos serão apresentados ao longo deste ciclo de cinco semanas, mostram-nos um percurso claro e definido:


1º domingo - Deus quer oferecer-nos um mundo onde a felicidade é possível.

2º domingo - A sua Palavra ensina-nos o caminho.

3º domingo – A Palavra de Deus chama-nos e conduz-nos à conversão e à renovação interior.

4º domingo - Aceitar esta Palavra implica, pois, mudar de vida. Fiquemos, contudo, certos do amor de Deus, gratuito e incondicional

5º domingo - Quanto a nós, temos de estar atentos ao seu plano de salvação e ir ao encontro dos outros, no amor e no serviço.

A “nova evangelização”, a que a Igreja nos convida, a todos, nesta Quaresma, impele-nos a não guardarmos este segredo da bondade e do amor misericordioso de Deus mas a partilhá-lo à nossa volta.

P. Hermínio Vitorino, sj

Recomendações de D. Manuel Felício para a Quaresma

Na sua mensagem Quaresmal, intitulada “Criar proximidade para construir comunidade”, o nosso Bispo, D. Manuel Felício, deixa-nos as seguintes recomendações, que nos poderão ajudar na caminhada para a Páscoa, que apenas iniciamos.

“A Quaresma constitui a grande oportunidade que nos é dada para relançarmos a nossa vida de Fé, procurando principalmente cuidar a partilha, o silêncio e o jejum, sempre na esperança de saborearmos as alegrias da Páscoa […].

Há urgências que a Quaresma nos lembra e uma delas é a de darmos a devida atenção uns aos outros.[…]

Ao longo desta Quaresma, queremos, assim, cultivar a autêntica proximidade para construir comunidade, principalmente das seguintes formas:

1. Celebrando a nossa Fé, com especial cuidado e entusiasmo, principalmente na Eucaristia. Recomendamos também que se reze nas comunidades pelo menos uma hora da Liturgia das Horas. E pedimos às Comunidades Religiosas e outras de especial consagração e também a grupos que já o costumam fazer que, pelo menos ao domingo, celebrem a Liturgia das Horas com o Povo.

2. Escutando e partilhando, com mais diligência, a Palavra de Deus contida na Bíblia, não só nas assembleias litúrgicas, mas também nos grupos bíblicos que estamos a incentivar por toda a nossa Diocese;

3. Respondendo, com generosidade, ao apelo da renúncia quaresmal. Este ano vamos dirigir a nossa renúncia quaresmal para a constituição e fortalecimento do nosso Fundo Diocesano de Solidariedade, à semelhança do Fundo de Solidariedade que é promovido pela Conferência Episcopal. São muitos os casos de pessoas que nos estão a bater à porta, pedindo ajuda material, porque lhes faltam os meios elementares de subsistência.

4. Alguns têm vindo a ser atendidos pela Caritas Diocesana e pelas Conferências de S. Vicente de Paulo. Porém, já há falta de meios para atender às necessidades e a evolução dos acontecimentos faz-nos prever que as dificuldades vão aumentar”.

(Extracto da Mensagem “Criar proximidade para construir comunidade” do D. Manuel Felício para a Quaresma de 2012. Para ver a mensagem completa pode consultar o site: www. diocesedaguarda.pt).

Viagem no deserto - dia cinzento



Guia-nos, Deus,
na viagem através do deserto
até ao lugar da tua crucifixão
e da tua Páscoa
Guia-nos, Deus,
da via cinzenta dos nossos dias
à  via gloriosa da tua cidade.
Seja este o tempo favorável
para a confissão do pecado e do louvor,
nós que vivemos na fragilidade do corpo nómada
o imaginário do oásis
e os lugares de repouso
Guia-nos, Deus,
para a inquietação que permanentemente te nomeia,
Deus em Jesus Cristo e no Espírito consolador


José Augusto Mourão
In O Nome e a Forma,
ed. Pedra Angular




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