dezembro 04, 2011

agosto 10, 2011

Julho 2011 - nº. 61

AS ONDAS DO MAR

O Bem que nos é Comum

A mensagem cristã que a Bíblia Sagrada e o Catecismo da Igreja Católica apresentam, não consiste numa espiritualidade de cariz privativo ou sem implicações para a vida ordinária. A mensagem cristã provoca estilos de vida cristalizados, mas nem sempre cristãos; invoca sonhos vivos, mas tantas vezes adormecidos; denuncia valores que nem sempre se valorizam e anuncia dignidade onde tantas vezes se vive sem piedade! A mensagem cristã, na sua apresentação de kerigma, (Primeiro Anúncio) é tão humana e humanizante que se torna irresistível quando, libertos de preconceitos, nos deixamos iluminar pela sua luz inspiradora. E quando é assim, nada, nem ninguém, é alheio àquele que crê. Cada situação, acontecimento ou pessoa, levanta questões e pede respostas aos diversos níveis: espiritual, social, político, cultural e comunitário.
Uma das vertentes e consequências da mensagem cristã para a vida tem expressão na Doutrina Social da Igreja. A vivência da Doutrina Social da Igreja sempre foi prática corrente desde os primórdios do cristianismo, mas só foi teorizada e sistematizada a partir do século XIX.
Um dos pilares da Doutrina Social da Igreja é o Bem Comum; o bem, porque é bem, é-o para todos, sob pena de não estar a ser Bem, nem bem gerido. Isto não significa que tudo pertence abstractamente a todos, mas que cada pessoa, na gestão dos bens que lhe são ou foram entregues, deve ter sempre presente que, em bom rigor, nada lhe pertence, tudo lhe é confiado, inclusivamente os frutos do seu árduo trabalho.
Semear, fazer crescer e cuidar estes valores na sociedade, não só nas sociedades distantes, (que podem não tocar a experiência pessoal), mas na vida concreta e social em que cada um de nós se insere, proporcionaria uma revolução cuperniana em termos de mentalidade pessoal e colectiva. Para que assim fosse, inspirados na Doutrina Social da Igreja, seria fundamental a assimilação e convicção de que tudo o que cada um tem não é, rigorosamente, seu (não raramente, a experiência da vida no-lo vai mostrando e testando). Essa certeza, posta em prática, reflectir-se-ia em atitudes de maior liberdade na relação com as coisas e uso das mesmas. Por exemplo: haveria menos desperdício no uso, e tantas vezes abuso, do que se tem e detém. De facto, não é humano desperdiçar o supérfluo, quando sabemos que há pessoas que não têm o essencial para viver dignamente. Outro exemplo: a liberdade interior, na partilha do que se tem e do que se é, (os próprios bens humanos, qualidades, talentos, não são nossos, são-nos confiados) seria uma experiência fundante, porque com fundamentos. Mais ainda: o epicentro das nossas escolhas pessoais, sociais e políticas, ponderadas e discernidas, não seriam feitas segundo o critério da maior satisfação e egoísmo pessoal, mas do maior bem comum, ainda que o mesmo nem sempre corresponda aos interesses pessoais, familiares ou de grupo.
Este ponto é central porque toca o cerne da nossa vivência social e comunitária: absolutizar os interesses pessoais, e de grupo, em detrimento do maior bem e bem comum, torna-nos mesquinhos, “monstrozinhos isolados”, sem horizontes, sem rasgo mental e afectivo, isto é, sem perspectivas.
Quando as nossas escolhas políticas, marcadas pelos valores que dizemos professar, se repercutirem coerentemente na coerência face às opções que tomamos; quando os partidos, todos e cada um, com a sua matriz ideológica, não tiverem outra preocupação na agenda política que não seja o bem maior (que é muito mais do que o bem estar económico), daqueles que os escolheram; quando nas famílias, nas empresas e até numa comunidade paroquial, como é a nossa, cada pessoa for capaz de ‘perder’ para que essa ‘perda’ dê lugar a ‘ganho’ para todos e a todos legitimamente favoreça; quando assim for: a nossa comunidade, a nossa cidade, o nosso país, Europa e “Primeiro Mundo”, entrarão num novo ciclo da sua história.
Que todos façam o melhor que sabem e podem pela sociedade e cada um tenha dela o que necessita para viver com dignidade, eis um dos ‘nervos’ centrais da Doutrina Social da Igreja, e parafraseados na Encíclica do Papa Bento XVI, Caridade na Verdade.
Olhando para os últimos cinco anos da vida da nossa comunidade, (com altos e baixos), creio que este epíteto esteve nos horizontes e preocupações de cada actividade, vivência e entendimento da vida comunitária: o bem individual, não é bem, nem é evangélico, se prejudica, afecta e compromete o bem Maior, e bem de todos.
Nesta minha última crónica do boletim da nossa comunidade (Mar da Galileia) desejo o maior bem a esta família que há cinco anos calorosamente me acolheu e, em sentido de missão, agora me vê partir! Ao desejar o maior bem, desejo-o a todos, e a cada membro desta família comunitária. O bem que desejo não é um bem reduzido à esfera individual, muito menos, a ‘bens’ que não vêm de Deus nem para Ele nos levam. O bem que desejo é que Deus, em Jesus, seja sempre reconhecido como “o Senhor das nossas vidas”que nos faz viver, não só com os outros, mas para os outros. Ele que une, congrega, compromete, e nos torna, já, aqui e agora: irmãos uns dos outros. Se estamos radicados n` Ele, haverá sempre lugar para mais um.
Padre Francisco Rodrigues, s.j.


CVX Comunidade de Vida Cristã


"Acção de graças, compromisso, esperança, comunhão fraterna e partilha... fazem parte das melhores palavras para descrever a Festa de Encerramento do Ano CVX (2010-2011), decorrida no passado dia 2 de Julho, no Seminário do Verbo Divino (Tortosendo).
A CVX da Beira Interior reuniu-se para dar graças ao Senhor pelo caminho feito durante este ano, pelas actividades realizadas e pelos pequenos e grandes passos que fomos dando, individualmente e em comunidade, no sentido de"tornar melhor o mundo, mais renovado e mais cheio do Espírito Santo"de acordo com o Reino já inaugurado por Jesus.
Em clima de alegria e esperança, a Comunidade de Vida Cristã testemunhou o compromisso temporário feito por três dos seus elementos, os quais manifestaram, publicamente, a sua opção pela CVX como modo específico de ser e estar em Igreja.
Seguiu-se um almoço partilhado sob as frondosas árvores do jardim, saboreado entre amenas conversas e deliciosos momentos de convívio e animação.
Apenas uma leve brisa soprava...
Talvez o sopro do Espírito Santo, suave e promissor!"
Paula Rabaça



Catequese:
avaliar para SER + e fazer melhor!

O ano da catequese terminou.
É sempre bom parar e avaliar o trabalho que foi feito. Há sempre aspectos a melhorar no caminho que estamos a percorrer. Partimos de um ponto, traçamos metas, definimos objectivos. Caminhamos! Todos os grupos fizeram uma avaliação do seu desempenho ao longo deste ano, os pontos bons e menos bons e até os que correram mal, tudo foi avaliado. Sem isso, não poderemos prosseguir a nossa caminhada com seriedade.
A avaliação ajuda a alegrarmo-nos com as descobertas feitas, pelo que aconteceu de bom. É ela também que faz verificar as falhas, corrigir o que não foi bom.
Avaliar em consciência ajuda-nos a melhor programar o próximo ano. Não podemos ficar somente no que o catequizando “aprendeu”, isto é, se sabe os mandamentos, sacramentos, mas é preciso avaliar as relações interpessoais, a responsabilidade, o compromisso, o assumir os valores evangélicos como: diálogo, partilha, capacidade de perdoar, atitudes de fraternidade, valores humanos. Em suma: Jesus é o centro da experiência catequética!
Quando temos uma experiência que corre bem, que toca os nossos jovens e crianças e faz bem aos catequistas, não podemos deixar morrer a chama e ficar à espera para lhe dar continuidade sabe-se lá quando.
Não deixemos morrer as boas experiências. Boas iniciativas precisam de ser melhoradas e repetidas.
E iniciativas que não correram bem precisam de ser mudadas, melhoradas.
Muitas coisas funcionaram, foram muitos os bons momentos de catequese que enriqueceram o grupo de catequistas, de catequizandos e da nossa comunidade.
Gostaríamos de convidar os encarregados de educação a fazerem o mesmo: avaliar para agradecer. Avaliar para melhorar. Avaliar para continuar. A nossa parte, sem a vossa, caros pais, ficaria reduzida, ao que aqui, vivemos, mas não chegaria!
Chegamos ao fim é tempo de programar o próximo ano.
Maria Falcão



abril 24, 2011

Páscoa 2011 - nº. 60


AS ONDAS DO MAR

"Adorar a Deus em Espírito e Verdade” (João 4,23)

O evangelho de S. João, no capítulo 4, narra-nos o encontro e os ‘desencontros’ entre Jesus e a Samaritana. De facto, este encontro começou com o pedido típico de um peregrino: “dá-me de beber” e terminou, por parte da Samaritana, no esquecimento do cântaro, uma vez que Aquele que pediu água, revelou-se ser poço de água viva que sacia as sedes mais profundas do coração humano.

No decorrer do diálogo entre Jesus e a Samaritana, é posto em questão o local em que se deve Adorar e saciar a sede e a fome de verdade, autenticidade e felicidade. A Samaritana sente-se confusa porque quer ser fiel à tradição. Jesus convida-a a não parar, a não se acomodar, a não se cansar desnecessariamente com os indiscerníveis e pesados “cântaros” da tradição. Jesus convida-a a abrir-se ao novo, ao inesperado, Àquele já presente na vida daqueles que se abrem ao Espírito. Quando a Samaritana fala do Messias, Jesus identifica-se como O Esperado, a fim de lhe apontar o Pai, cuja adoração não se limita a um espaço físico, nem à tradição, nem mesmo às expectativas e modos como é “desenhada” a sua presença. Por outras palavras, com Jesus e a partir de Jesus, o Pai só pode ser adorado em Espírito e Verdade, e só assim pode ser encontrado na tradição, nos lugares simbólicos, na comunidade, nas igrejas, capelas e catedrais. Gostaríamos que fosse esta a nossa atitude, na relação com Deus.

Este domingo, o nosso Bispo D. Manuel Felício vai estar connosco para benzer a nova capelinha de Santo Inácio de Loiola. Gostaríamos que este fosse um espaço dedicado à oração, não para substituir a Igreja-mor, mas para a complementar. Desejaríamos que fosse um espaço privilegiado para vivermos celebrações em pequenos grupos, não grupos que se encerram em si próprios, mas sejam fermento na massa das grandes vivências comunitárias e litúrgicas. Esperamos que seja um espaço convidativo à oração pessoal, não para que ninguém se sinta no ‘quentinho’ da relação com Deus, mas antes, interpelado e ‘incomodado’ ao saber que tantas pessoas ainda não O conhecem e não foram por Ele tocadas. Em suma, cremos que o espaço da nova capelinha será um lugar de encontro segundo o Espírito que nos convida a adorar em Verdade. Gostaríamos que a nova capelinha fosse na vida de todos, ´o cantinho de Deus’ presente em todos os cantos, praças e estradas da vida.
Que Santo Inácio de Loiola, (patrono da capelinha), seduzido por Deus e empenhado com o mundo do seu tempo, nos interpele a desejar sempre mais e fazer melhor.

Que Nossa Senhora da Esperança, que nos trouxe o Esperado, nos acompanhe e inspire na relação com Aquele que ela mesma adorou e encontrou, em Espírito e Verdade.

Padre Francisco Rodrigues, s.j.

“Entra no teu quarto e reza a teu Pai no segredo”


Respondendo ao convite feito a jovens e menos jovens, pelo Pe. José Frazão, percorremos em quatro domingos consecutivos um itinerário de oração, com palavras e silêncios, com salmos e cânticos, com gestos, símbolos e sinais.

Iniciámos o percurso contemplando o quadro de Rembrandt, "O Regresso a Casa ". Impressionou-me o amor incondicional de Deus, retratado naquele Pai, que acolhe cheio de alegria o filho que se havia tresmalhado. Fiz, então, a experiência de sentir e de me abandonar no abraço do Pai.
O domingo seguinte conduziu-nos à adoração da Cruz, onde me juntei como discípulo, à Mãe e ao amigo, os únicos que tiveram força para ali ficar. Para eu poder regressar a casa, Jesus tomou sobre si as minhas dores e as minhas enfermidades.

Na adoração ao Santíssimo, trouxe à memória a Última Ceia e o desejo ardente de Jesus estar connosco até ao ponto de se fazer Pão. O Infinito num pedacinho de pão.
A minha pequenez impediu-me de alcançar tal mistério.
Pedi graça, acendendo uma vela.

Neste itinerário, à semelhança de S. João da Cruz, senti que ardia em todos os participantes o desejo de Estar com Deus. Por isso purificámos na água as mãos. E, com as mãos, toquei os olhos, os ouvidos, a boca e o peito.
E, deste modo, redescobri que o Pai que nos aguarda, já correu até nós, e com o Filho fez morada em nós pelo Espírito Santo.
Grande é este Mistério que em mim habita.
Vitor Santos

janeiro 01, 2011

Janeiro 2011 - nº. 59

As Ondas do Mar

A crise e o Novo Ano

Temos vivido cobertos por “nuvens cinzentas” que teimam em assinalar que o Novo Ano não vai ser fácil. Se estamos atentos ao que se passa à nossa volta, facilmente caímos na conta que há sinais fortes que nos fazem pensar e preocupar. Até porque, o ano que agora termina já não foi nada fácil para muita gente. A crise toca na vida de muitas pessoas, e parece que vai aumentando o número daqueles que sentem os seus efeitos mais imediatos. Por outro lado, persiste em nós o desejo de expressar um Bom Ano Novo àqueles com quem as circunstâncias da vida permitem encontro e relação. As origens de uma crise são múltiplas. Muitas vezes, as consequências económicas são o produto final de uma série de causas e efeitos. Não me vou deter sobre as suas causas, não só devido à sua complexidade, mas também por não ser este o espaço mais indicado para o efeito. Deter-me-ei, sim, sobre o desejo de que, como comunidade, vivamos um Novo Ano 2011 bom, reagindo contra a crise.

Continuamos a viver, na nossa comunidade paroquial, momentos de muito trabalho, (pastoral e material): dar Jesus a conhecer e celebrá-Lo em eucaristia, e simultaneamente procurando renovar as nossas estruturas, com empenho e compromissos que envolvem todos os que verdadeiramente se dedicam e comprometem com uma comunidade viva, que serve, e só serve se servir, e será tanto mais serviço quanto mais o for cada um dos membros que a constituem.

Não raramente, fui ouvindo frases como esta: “o que estamos a fazer é essencial para a vida e futuro da nossa comunidade paroquial… mas com esta crise… o melhor seria esperar que a crise passasse”. Não posso estar mais em desacordo! Nenhuma crise passará se cruzamos os braços e ficamos passivamente à espera! A crise não passa sem nós… de nós depende que passe connosco e passe com a maior brevidade possível! A raiz dos problemas e também das soluções, reside, antes de mais, nas atitudes interiores de cada pessoa. Tempos de crise são também tempos de oportunidades e de esperança ao alcance de cada indivíduo, grupo, instituição. Este é o tempo favorável de fazermos a diferença. Com os braços cruzados, à espera, o mundo passa por nós, e nós ficamos a olhar para ele, assistindo como espectadores. Se assim for, não entramos no dinamismo da história, nada seremos, se nada fizermos, se nada formos.

Desejo que todos tenham um Bom e Santo Ano Novo. Tudo o que vier a acontecer, será dom e pura graça. Mas o dom e a graça de Deus, o qual permanece sempre, age activamente em cada um de nós e caminha ao lado de todos os que fazem o melhor que de si depende e confiam a Jesus, aquilo que de cada um de nós não depende tanto.

Que o Novo Ano, que agora tem início, seja um ano de empenho, dedicação, generosidade, optimismo e esperança. Se assim for, não só teremos um bom ano, mas seremos ocasião para que este seja bom na vida de tantas pessoas à nossa volta: comunidade, família, vizinhos e até pessoas que nem conhecemos! Desejo a todos os paroquianos um santo e abençoado Ano Novo cheio de criatividade e fidelidade a Deus que age na vida daqueles que activamente se abrem à Sua graça.

Padre Francisco Rodrigues, s.j.


Hoje é também o Dia Mundial da Paz

A Paz que é obra da justiça e fruto do amor…
Todo o ano será cheio de PAZ, se Deus habitar no silêncio do nosso coração.



Aceitar o convite de ser catequista: Um desafio, uma missão,
grande responsabilidade!

Se, por um lado, somos interpelados pela consciência de que a formação doutrinal enquanto catequese é de importância vital no seio da comunidade católica em que vivemos, por outro, quando solicitados para a desenvolver e tomar partido na sua execução como catequistas, assombra de imediato no nosso espírito um conjunto de questões que quase nos impelem a responder: não, não estou disposto! Porquê? São inevitáveis questões como: Serei digno? Terei tempo? Serei capaz? Do que terei de abdicar?
“Egoísta! – Tu, sempre tu, sempre o que é teu. Pareces incapaz de sentir a fraternidade de Cristo nos outros, não vês irmãos; vês degraus. Pressinto o teu rotundo fracasso. E quando te tiveres afundado, quererás que tenham contigo a caridade que agora não queres ter” (S. Josemaria ESCRIVÁ in Caminho, 31). O egocentrismo invade-nos e afasta a nossa razão do essencial, do serviço, do amor ao próximo despreocupado. Ignoramos momentaneamente, o quanto foi importante para cada um de nós, o tempo junto do nosso catequista, dos nossos colegas de catequese e o quanto aprendíamos sem saber que crescíamos, na vida e no conhecimento de Deus nosso Senhor. Até que “… Maria disse, então: eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38-39). Face a estas palavras e a um confiante “sim” de Maria, mãe dos homens, uma força de ânimo rejuvenesce a nossa vontade.
A hesitação dá lugar ao SIM, questões tais como: “terei tempo?” respondemos: o que é o tempo se não o de Deus nosso Senhor? Face à interrogação do “serei capaz?” Surge a resposta da confiança, pois a capacidade necessária é-nos emanada pela graça do Divino Espírito Santo. E como reagir face à interrogação do quanto abdicaremos, a réplica certa é de que abdicaremos de muito! Mas, de tudo aquilo que não é de Deus, que não é parte essencial do crescimento dos filhos de Deus, surge a certeza do quanto ganhamos, recebemos. Enriquecemo-nos se dizemos SIM!
Ora, à perca, à incapacidade, ao tempo e à dignidade, Deus coloca ao nosso dispor todos os meios para que sirvamos da melhor forma o seu Reino, exigindo-nos apenas a nossa disponibilidade, a abertura dos nossos corações para O receber. “Esse grito - «serviam!» - é vontade de servir fidelissimamente a Igreja de Deus, mesmo à custa da fazenda, da honra e da vida.” (S. Josemaria ESCRIVÁ in Caminho, 519). Neste sentido, e na convicção de que a nossa vontade só pode passar por servir e contemplar Deus Nosso Senhor, todas as questões se dissipam, todos os horários se concentram no sábado e todos os medos se desvanecem no esforço de reunir em torno dos temas propostos o nosso grupo de crianças.
Estas esforçam-se por nos escutar, sempre radiantes e de sorriso sempre por aquela pequena hora em que cânticos, frases belas, leituras e ensinamentos se reúnem em torno de um objectivo comum: o do serviço.
Nuno Reis (Catequista)


Agradecer, Pedir perdão, Pedir Luz...

No final deste Ano de Graça, que apenas terminámos, e com o surgir do Novo Ano, proponho-vos uns simples tópicos, para vos ajudar a fazer um breve exame de consciência:

1. AGRADEÇO: com um coração alegre e confiante olho para Deus, para o mundo, para os outros, para mim próprio e agradeço todos os benefícios, dons, graças que recebi no ano 2010.

2. PEÇO PERDÃO: envolvido e acarinhado pelo Amor e pela Misericórdia de Deus, e com humildade, reconheço a minha fragilidade, o meu pecado, e peço perdão pelo bem que deixei de fazer e pelo mal que fiz, por palavras, actos e omissões. E proponho emendar-me!

3. PEÇO LUZ: já no vestíbulo de entrada do ano de 2011, peço a Deus, fonte de todas as graças, luz para o meu caminho, para o meu discernimento, para as minhas escolhas, e muita esperança, confiança, generosidade, alegria, paz…. E que seja mais disponível e atento a Ele e aos outros!
P. Hermínio Vitorino, sj


OPCÇÃO PELOS MAIS POBRES - ENCONTRO DE FORMAÇÃO


Estamos particularmente conscientes da necessidade premente de trabalhar pela justiça através de uma opção preferencial pelos pobres e de um estilo de vida simples, que expresse a nossa liberdade e solidariedade com eles (CVX—PG4)

A opção preferencial pelos mais pobres não devia ser uma temática necessária a reflectir, a discutir, ou a meditar por parte das comunidades cristãs. Tão simplesmente porque faz parte da essência do cristianismo.
Como ser cristão, discípulo e seguidor de Jesus se realmente não se faz essa opção pelos mais pobres no dia-a-dia? Não é possível ser cristão de outra maneira, não é possível ser cristão sem esse olhar mais específico, sem essa atenção mais direccionada para os mais pobres, para os mais excluídos. Não pode ser de outra maneira … porque é Jesus quem nos ensina, quem nos convida, quem nos confirma…
Foi com esta interpelação que no passado dia 27 de Novembro, na Paróquia de S. Pedro, o Pe. Paulo Teia, sacerdote jesuíta, iniciou o encontro de formação “Opção pelos mais pobres” promovido pela Comunidade de Vida Cristã da Região da Beira Interior (CVX-BI).
O Pe. Paulo, ao longo dos seus 21 anos na Companhia de Jesus, tem sempre revelado uma grande sensibilidade, apelo e disponibilidade para o trabalho, o convívio e a amizade com os mais pobres e excluídos que vai encontrando por onde passa e vive. Actualmente reside na Comunidade S. Pedro de Claver, no Pragal (Almada).
No Encontro, teve oportunidade de partilhar as suas vivências, as suas dificuldades, mas também a sua humildade, e testemunhar a certeza de quem sabe onde assenta o seu trabalho. Aliás, na parte da manhã fez uma proposta de reflexão e oração, precisamente para que cada um dos participantes se confrontasse directamente com 2 aspectos da dinâmica mais profunda da nossa vida: (1) é na medida que eu souber quem é Jesus para mim, que eu sei através d’Ele quem eu sou; (2) por outro lado, a minha identificação, o meu seguimento, a minha intimidade com Jesus passa necessariamente por aceitar o Seu programa de vida.
E esse programa é bem claro… também Jesus escolheu preferencialmente os mais pobres. Toda a sua vida, desde o nascimento até à ressurreição, foi junto dos simples, dos excluídos, dos cativos, dos necessitados… dos pequenos. E fez essa escolha, não de uma maneira altiva, superior, fazendo juízos de valor, de quem espera retribuição ou recompensa…
Como nos explicava o Pe. Paulo Teia da parte da tarde, através da partilha da sua experiência espiritual e pastoral no Pragal e em Rabo de Peixe, é fundamental que esta abertura, esta partida ao encontro dos outros, em condições desfavoráveis, seja aberta às diferentes possibilidades, dando prioridade ao que existe, à realidade sem julgamentos, sem imposições, mas com a certeza de que “Jesus ama aquelas pessoas mais do que eu; Jesus já lá estava antes de eu chegar”, citando directamente o Pe. Paulo Teia.
É fundamental construir laços de humanidade, de amizade e de compaixão, a partir de uma posição humilde e de serviço, sem querer ser mais alto, ou ser o protagonista, ou ver o outro como um simples objecto da minha acção.
Outro aspecto referido relaciona-se com a pobreza de quem vai ao encontro, de quem aprende a viver com o que tem, à luz da indiferença inaciana, pois sendo pouco ou muito (coisas, sentimentos, relações, sucessos), o fundamental é o amor de Deus que vem continuamente até nós, e que nos suporta e alenta. É precisamente nas nossas fragilidades, que se manifesta a força de Deus, pois só quando somos frágeis é que podemos ser sensíveis às fragilidades dos outros, e assim estamos em condições de podermos ser construtores de relações justas, por acção directa de Deus-Pai em nós.
É curioso como a pedagogia que Deus usa connosco é caminho para a podermos utilizar uns com os outros.
Contemplemos o modo como Deus vem ao nosso encontro, como Deus estabelece uma relação connosco… não do alto, mas próximo, despojado, em humildade, de quem precisa de nosso amor e empenho, apesar das nossas pobrezas…Olhemos para este Deus que não desiste de nós, que continua a vir ao nosso encontro,que continua a acreditar em nós, apesar das nossas respostas nem sempre serem fiéis ao Seu amor…
O Pe. Paulo Teia teve ainda a oportunidade de mostrar e explicar o projecto “ Rabo de Peixe Sabe Sonhar” desenvolvido junto das crianças e das famílias desta vila na ilha de S. Miguel, marcada por uma situação de real pobreza e miséria, onde coexistem de forma sucessiva diversos problemas como o álcool, a fome, a violência doméstica e o absentismo escolar.
Em suma… Será que é legítimo colocar a um cristão, a questão concreta de fazer ou não uma Opção pelos mais pobres? Geralmente fazem-se opções quando há alternativas... Neste caso não há!!!
Como nos dizia o Pe. Paulo Teia, as palavras de Jesus na Sinagoga em Nazaré são as nossas, se soubermos responder verdadeiramente quem é Jesus… «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor».
Lc 4, 18-19
Rui Brás (Presidente da CVX B.I.)

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2011

lIBERDADE RELIGIOSA, CAMINHO PARA A PAZ

No início de um ano novo, desejo fazer chegar a todos e cada um os meus votos: votos de serenidade e prosperidade, mas sobretudo votos de paz. Infelizmente também o ano que encerra as portas esteve marcado pela perseguição, pela discriminação, por terríveis actos de violência e de intolerância religiosa.

LIBERDADE RELIGIOSA, CAMINHO PARA A PAZ

O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional.
A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projecto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou económico, e menos ainda de astúcias enganadoras ou de hábeis manipulações.
Pelo contrário, a paz é o resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada. Convido todos aqueles que desejam tornar-se obreiros de paz e sobretudo os jovens a prestarem ouvidos à própria voz interior, para encontrar em Deus a referência estável para a conquista de uma liberdade autêntica, a força inesgotável para orientar o mundo com um espírito novo, capaz de não repetir os erros do passado. Como ensina o Servo de Deus Papa Paulo VI, a cuja sabedoria e clarividência se deve a instituição do Dia Mundial da Paz, «é preciso, antes de mais nada, proporcionar à Paz outras armas, que não aquelas que se destinam a matar e a exterminar a humanidade. São necessárias sobretudo as armas morais, que dão força e prestígio ao direito internacional; aquela arma, em primeiro lugar, da observância dos pactos».[18] A liberdade religiosa é uma autêntica arma da paz, com uma missão histórica e profética. De facto, ela valoriza e faz frutificar as qualidades e potencialidades mais profundas da pessoa humana, capazes de mudar e tornar melhor o mundo; consente alimentar a esperança num futuro de justiça e de paz, mesmo diante das graves injustiças e das misérias materiais e morais. Que todos os homens e as sociedades aos diversos níveis e nos vários ângulos da terra possam brevemente experimentar a liberdade religiosa, caminho para a paz!
Vaticano, 8 de Dezembro de 2010.

BENEDICTUS PP XVI

(Extractos da Mensagem)