janeiro 01, 2011

Janeiro 2011 - nº. 59

As Ondas do Mar

A crise e o Novo Ano

Temos vivido cobertos por “nuvens cinzentas” que teimam em assinalar que o Novo Ano não vai ser fácil. Se estamos atentos ao que se passa à nossa volta, facilmente caímos na conta que há sinais fortes que nos fazem pensar e preocupar. Até porque, o ano que agora termina já não foi nada fácil para muita gente. A crise toca na vida de muitas pessoas, e parece que vai aumentando o número daqueles que sentem os seus efeitos mais imediatos. Por outro lado, persiste em nós o desejo de expressar um Bom Ano Novo àqueles com quem as circunstâncias da vida permitem encontro e relação. As origens de uma crise são múltiplas. Muitas vezes, as consequências económicas são o produto final de uma série de causas e efeitos. Não me vou deter sobre as suas causas, não só devido à sua complexidade, mas também por não ser este o espaço mais indicado para o efeito. Deter-me-ei, sim, sobre o desejo de que, como comunidade, vivamos um Novo Ano 2011 bom, reagindo contra a crise.

Continuamos a viver, na nossa comunidade paroquial, momentos de muito trabalho, (pastoral e material): dar Jesus a conhecer e celebrá-Lo em eucaristia, e simultaneamente procurando renovar as nossas estruturas, com empenho e compromissos que envolvem todos os que verdadeiramente se dedicam e comprometem com uma comunidade viva, que serve, e só serve se servir, e será tanto mais serviço quanto mais o for cada um dos membros que a constituem.

Não raramente, fui ouvindo frases como esta: “o que estamos a fazer é essencial para a vida e futuro da nossa comunidade paroquial… mas com esta crise… o melhor seria esperar que a crise passasse”. Não posso estar mais em desacordo! Nenhuma crise passará se cruzamos os braços e ficamos passivamente à espera! A crise não passa sem nós… de nós depende que passe connosco e passe com a maior brevidade possível! A raiz dos problemas e também das soluções, reside, antes de mais, nas atitudes interiores de cada pessoa. Tempos de crise são também tempos de oportunidades e de esperança ao alcance de cada indivíduo, grupo, instituição. Este é o tempo favorável de fazermos a diferença. Com os braços cruzados, à espera, o mundo passa por nós, e nós ficamos a olhar para ele, assistindo como espectadores. Se assim for, não entramos no dinamismo da história, nada seremos, se nada fizermos, se nada formos.

Desejo que todos tenham um Bom e Santo Ano Novo. Tudo o que vier a acontecer, será dom e pura graça. Mas o dom e a graça de Deus, o qual permanece sempre, age activamente em cada um de nós e caminha ao lado de todos os que fazem o melhor que de si depende e confiam a Jesus, aquilo que de cada um de nós não depende tanto.

Que o Novo Ano, que agora tem início, seja um ano de empenho, dedicação, generosidade, optimismo e esperança. Se assim for, não só teremos um bom ano, mas seremos ocasião para que este seja bom na vida de tantas pessoas à nossa volta: comunidade, família, vizinhos e até pessoas que nem conhecemos! Desejo a todos os paroquianos um santo e abençoado Ano Novo cheio de criatividade e fidelidade a Deus que age na vida daqueles que activamente se abrem à Sua graça.

Padre Francisco Rodrigues, s.j.


Hoje é também o Dia Mundial da Paz

A Paz que é obra da justiça e fruto do amor…
Todo o ano será cheio de PAZ, se Deus habitar no silêncio do nosso coração.



Aceitar o convite de ser catequista: Um desafio, uma missão,
grande responsabilidade!

Se, por um lado, somos interpelados pela consciência de que a formação doutrinal enquanto catequese é de importância vital no seio da comunidade católica em que vivemos, por outro, quando solicitados para a desenvolver e tomar partido na sua execução como catequistas, assombra de imediato no nosso espírito um conjunto de questões que quase nos impelem a responder: não, não estou disposto! Porquê? São inevitáveis questões como: Serei digno? Terei tempo? Serei capaz? Do que terei de abdicar?
“Egoísta! – Tu, sempre tu, sempre o que é teu. Pareces incapaz de sentir a fraternidade de Cristo nos outros, não vês irmãos; vês degraus. Pressinto o teu rotundo fracasso. E quando te tiveres afundado, quererás que tenham contigo a caridade que agora não queres ter” (S. Josemaria ESCRIVÁ in Caminho, 31). O egocentrismo invade-nos e afasta a nossa razão do essencial, do serviço, do amor ao próximo despreocupado. Ignoramos momentaneamente, o quanto foi importante para cada um de nós, o tempo junto do nosso catequista, dos nossos colegas de catequese e o quanto aprendíamos sem saber que crescíamos, na vida e no conhecimento de Deus nosso Senhor. Até que “… Maria disse, então: eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38-39). Face a estas palavras e a um confiante “sim” de Maria, mãe dos homens, uma força de ânimo rejuvenesce a nossa vontade.
A hesitação dá lugar ao SIM, questões tais como: “terei tempo?” respondemos: o que é o tempo se não o de Deus nosso Senhor? Face à interrogação do “serei capaz?” Surge a resposta da confiança, pois a capacidade necessária é-nos emanada pela graça do Divino Espírito Santo. E como reagir face à interrogação do quanto abdicaremos, a réplica certa é de que abdicaremos de muito! Mas, de tudo aquilo que não é de Deus, que não é parte essencial do crescimento dos filhos de Deus, surge a certeza do quanto ganhamos, recebemos. Enriquecemo-nos se dizemos SIM!
Ora, à perca, à incapacidade, ao tempo e à dignidade, Deus coloca ao nosso dispor todos os meios para que sirvamos da melhor forma o seu Reino, exigindo-nos apenas a nossa disponibilidade, a abertura dos nossos corações para O receber. “Esse grito - «serviam!» - é vontade de servir fidelissimamente a Igreja de Deus, mesmo à custa da fazenda, da honra e da vida.” (S. Josemaria ESCRIVÁ in Caminho, 519). Neste sentido, e na convicção de que a nossa vontade só pode passar por servir e contemplar Deus Nosso Senhor, todas as questões se dissipam, todos os horários se concentram no sábado e todos os medos se desvanecem no esforço de reunir em torno dos temas propostos o nosso grupo de crianças.
Estas esforçam-se por nos escutar, sempre radiantes e de sorriso sempre por aquela pequena hora em que cânticos, frases belas, leituras e ensinamentos se reúnem em torno de um objectivo comum: o do serviço.
Nuno Reis (Catequista)


Agradecer, Pedir perdão, Pedir Luz...

No final deste Ano de Graça, que apenas terminámos, e com o surgir do Novo Ano, proponho-vos uns simples tópicos, para vos ajudar a fazer um breve exame de consciência:

1. AGRADEÇO: com um coração alegre e confiante olho para Deus, para o mundo, para os outros, para mim próprio e agradeço todos os benefícios, dons, graças que recebi no ano 2010.

2. PEÇO PERDÃO: envolvido e acarinhado pelo Amor e pela Misericórdia de Deus, e com humildade, reconheço a minha fragilidade, o meu pecado, e peço perdão pelo bem que deixei de fazer e pelo mal que fiz, por palavras, actos e omissões. E proponho emendar-me!

3. PEÇO LUZ: já no vestíbulo de entrada do ano de 2011, peço a Deus, fonte de todas as graças, luz para o meu caminho, para o meu discernimento, para as minhas escolhas, e muita esperança, confiança, generosidade, alegria, paz…. E que seja mais disponível e atento a Ele e aos outros!
P. Hermínio Vitorino, sj


OPCÇÃO PELOS MAIS POBRES - ENCONTRO DE FORMAÇÃO


Estamos particularmente conscientes da necessidade premente de trabalhar pela justiça através de uma opção preferencial pelos pobres e de um estilo de vida simples, que expresse a nossa liberdade e solidariedade com eles (CVX—PG4)

A opção preferencial pelos mais pobres não devia ser uma temática necessária a reflectir, a discutir, ou a meditar por parte das comunidades cristãs. Tão simplesmente porque faz parte da essência do cristianismo.
Como ser cristão, discípulo e seguidor de Jesus se realmente não se faz essa opção pelos mais pobres no dia-a-dia? Não é possível ser cristão de outra maneira, não é possível ser cristão sem esse olhar mais específico, sem essa atenção mais direccionada para os mais pobres, para os mais excluídos. Não pode ser de outra maneira … porque é Jesus quem nos ensina, quem nos convida, quem nos confirma…
Foi com esta interpelação que no passado dia 27 de Novembro, na Paróquia de S. Pedro, o Pe. Paulo Teia, sacerdote jesuíta, iniciou o encontro de formação “Opção pelos mais pobres” promovido pela Comunidade de Vida Cristã da Região da Beira Interior (CVX-BI).
O Pe. Paulo, ao longo dos seus 21 anos na Companhia de Jesus, tem sempre revelado uma grande sensibilidade, apelo e disponibilidade para o trabalho, o convívio e a amizade com os mais pobres e excluídos que vai encontrando por onde passa e vive. Actualmente reside na Comunidade S. Pedro de Claver, no Pragal (Almada).
No Encontro, teve oportunidade de partilhar as suas vivências, as suas dificuldades, mas também a sua humildade, e testemunhar a certeza de quem sabe onde assenta o seu trabalho. Aliás, na parte da manhã fez uma proposta de reflexão e oração, precisamente para que cada um dos participantes se confrontasse directamente com 2 aspectos da dinâmica mais profunda da nossa vida: (1) é na medida que eu souber quem é Jesus para mim, que eu sei através d’Ele quem eu sou; (2) por outro lado, a minha identificação, o meu seguimento, a minha intimidade com Jesus passa necessariamente por aceitar o Seu programa de vida.
E esse programa é bem claro… também Jesus escolheu preferencialmente os mais pobres. Toda a sua vida, desde o nascimento até à ressurreição, foi junto dos simples, dos excluídos, dos cativos, dos necessitados… dos pequenos. E fez essa escolha, não de uma maneira altiva, superior, fazendo juízos de valor, de quem espera retribuição ou recompensa…
Como nos explicava o Pe. Paulo Teia da parte da tarde, através da partilha da sua experiência espiritual e pastoral no Pragal e em Rabo de Peixe, é fundamental que esta abertura, esta partida ao encontro dos outros, em condições desfavoráveis, seja aberta às diferentes possibilidades, dando prioridade ao que existe, à realidade sem julgamentos, sem imposições, mas com a certeza de que “Jesus ama aquelas pessoas mais do que eu; Jesus já lá estava antes de eu chegar”, citando directamente o Pe. Paulo Teia.
É fundamental construir laços de humanidade, de amizade e de compaixão, a partir de uma posição humilde e de serviço, sem querer ser mais alto, ou ser o protagonista, ou ver o outro como um simples objecto da minha acção.
Outro aspecto referido relaciona-se com a pobreza de quem vai ao encontro, de quem aprende a viver com o que tem, à luz da indiferença inaciana, pois sendo pouco ou muito (coisas, sentimentos, relações, sucessos), o fundamental é o amor de Deus que vem continuamente até nós, e que nos suporta e alenta. É precisamente nas nossas fragilidades, que se manifesta a força de Deus, pois só quando somos frágeis é que podemos ser sensíveis às fragilidades dos outros, e assim estamos em condições de podermos ser construtores de relações justas, por acção directa de Deus-Pai em nós.
É curioso como a pedagogia que Deus usa connosco é caminho para a podermos utilizar uns com os outros.
Contemplemos o modo como Deus vem ao nosso encontro, como Deus estabelece uma relação connosco… não do alto, mas próximo, despojado, em humildade, de quem precisa de nosso amor e empenho, apesar das nossas pobrezas…Olhemos para este Deus que não desiste de nós, que continua a vir ao nosso encontro,que continua a acreditar em nós, apesar das nossas respostas nem sempre serem fiéis ao Seu amor…
O Pe. Paulo Teia teve ainda a oportunidade de mostrar e explicar o projecto “ Rabo de Peixe Sabe Sonhar” desenvolvido junto das crianças e das famílias desta vila na ilha de S. Miguel, marcada por uma situação de real pobreza e miséria, onde coexistem de forma sucessiva diversos problemas como o álcool, a fome, a violência doméstica e o absentismo escolar.
Em suma… Será que é legítimo colocar a um cristão, a questão concreta de fazer ou não uma Opção pelos mais pobres? Geralmente fazem-se opções quando há alternativas... Neste caso não há!!!
Como nos dizia o Pe. Paulo Teia, as palavras de Jesus na Sinagoga em Nazaré são as nossas, se soubermos responder verdadeiramente quem é Jesus… «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor».
Lc 4, 18-19
Rui Brás (Presidente da CVX B.I.)

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2011

lIBERDADE RELIGIOSA, CAMINHO PARA A PAZ

No início de um ano novo, desejo fazer chegar a todos e cada um os meus votos: votos de serenidade e prosperidade, mas sobretudo votos de paz. Infelizmente também o ano que encerra as portas esteve marcado pela perseguição, pela discriminação, por terríveis actos de violência e de intolerância religiosa.

LIBERDADE RELIGIOSA, CAMINHO PARA A PAZ

O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional.
A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projecto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou económico, e menos ainda de astúcias enganadoras ou de hábeis manipulações.
Pelo contrário, a paz é o resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada. Convido todos aqueles que desejam tornar-se obreiros de paz e sobretudo os jovens a prestarem ouvidos à própria voz interior, para encontrar em Deus a referência estável para a conquista de uma liberdade autêntica, a força inesgotável para orientar o mundo com um espírito novo, capaz de não repetir os erros do passado. Como ensina o Servo de Deus Papa Paulo VI, a cuja sabedoria e clarividência se deve a instituição do Dia Mundial da Paz, «é preciso, antes de mais nada, proporcionar à Paz outras armas, que não aquelas que se destinam a matar e a exterminar a humanidade. São necessárias sobretudo as armas morais, que dão força e prestígio ao direito internacional; aquela arma, em primeiro lugar, da observância dos pactos».[18] A liberdade religiosa é uma autêntica arma da paz, com uma missão histórica e profética. De facto, ela valoriza e faz frutificar as qualidades e potencialidades mais profundas da pessoa humana, capazes de mudar e tornar melhor o mundo; consente alimentar a esperança num futuro de justiça e de paz, mesmo diante das graves injustiças e das misérias materiais e morais. Que todos os homens e as sociedades aos diversos níveis e nos vários ângulos da terra possam brevemente experimentar a liberdade religiosa, caminho para a paz!
Vaticano, 8 de Dezembro de 2010.

BENEDICTUS PP XVI

(Extractos da Mensagem)

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